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Energia das Marés e Ondas: O Futuro Sustentável dos Oceanos

A energia das marés e ondas está revolucionando a matriz energética global, oferecendo geração elétrica limpa, eficiente e previsível. Descubra sua história, tecnologias modernas, vantagens ambientais e como projetos ao redor do mundo estão tornando a energia marinha um pilar do futuro sustentável.

24/10/2025
7 min
Energia das Marés e Ondas: O Futuro Sustentável dos Oceanos

A energia das ondas e marés está conquistando um papel central na transição global para fontes renováveis. A energia marinha, baseada no aproveitamento das ondas, marés e correntes oceânicas, é considerada uma das formas mais promissoras de geração elétrica sustentável. O potencial energético dos mares supera em dezenas de vezes a demanda global de eletricidade, tornando-se um pilar fundamental para um futuro sem combustíveis fósseis.

História e fundamentos da energia das marés

O uso da energia do mar antecede a própria era elétrica. Já na Idade Média, na França e no Reino Unido, eram construídos moinhos de maré - estruturas em que a água acumulada durante a maré alta girava rodas e martelos. A ideia de converter o movimento do oceano em eletricidade, porém, só ganhou força no século XX.

As primeiras usinas de energia maremotriz surgiram nos anos 1960, quando cientistas perceberam o enorme potencial das oscilações das marés. Um dos projetos pioneiros é a usina de La Rance, na França, em operação desde 1966. Suas turbinas aproveitam a diferença de nível entre o mar e uma bacia de maré para gerar eletricidade de forma eficiente e previsível.

O funcionamento é semelhante ao das hidrelétricas convencionais: durante a maré alta, a água é armazenada e, na maré baixa, passa por turbinas que acionam geradores. Ao contrário dos rios, as marés oceânicas ocorrem duas vezes ao dia com regularidade, o que garante estabilidade na geração.

Posteriormente, pesquisadores direcionaram esforços para captar não só o movimento vertical das águas, mas também oscilações horizontais, desenvolvendo dispositivos para energia das ondas e das correntes. O avanço em materiais, sistemas de absorção de impacto e plataformas autônomas resistentes permitiu expandir essas tecnologias para ambientes marítimos rigorosos.

Hoje, a energia maremotriz alia princípios clássicos da hidrodinâmica a métodos inovadores de conversão, tornando-se parte essencial da economia de baixo carbono.

Tecnologias modernas de energia marinha

A energia marinha contemporânea se divide em três frentes principais: energia das marés, das ondas e das correntes oceânicas. Todas buscam gerar eletricidade limpa e estável a partir do movimento da água.

⚙️ Usinas de energia das marés

As usinas maremotrizes clássicas operam com barragens que bloqueiam a entrada de baías ou estuários. Durante a maré alta, a água é retida em reservatórios; na baixa, é direcionada de volta ao mar pelas turbinas. São recomendadas onde a diferença de nível ultrapassa 5 a 6 metros.

Exemplos renomados incluem La Rance (França), Sihwa (Coreia do Sul) e Kislogubskaya (Rússia), que comprovam a viabilidade da energia das marés em operação contínua e com baixa necessidade de manutenção. Turbinas reversíveis modernas possibilitam gerar energia tanto na subida quanto na descida da maré, aumentando a eficiência.

🌊 Sistemas de energia das ondas

A energia das ondas aproveita o movimento constante da superfície oceânica. Entre as principais soluções estão:

  • Bóias flutuantes com cilindros hidráulicos que convertem movimentos verticais em rotação de geradores;
  • Plataformas flexíveis e sistemas articulados (como a tecnologia Pelamis), que se dobram sob ação das ondas;
  • Coletoras costeiras, que canalizam a energia do rebentamento para câmaras com turbinas.

Projetos em Portugal, Noruega e Japão já demonstram a capacidade dessas tecnologias em abastecer comunidades litorâneas e ilhas de forma estável.

🌊⚡ Energia das correntes oceânicas

A energia das correntes aproveita fluxos poderosos como a Corrente do Golfo. Turbinas submersas a 30-50 metros de profundidade giram com o fluxo contínuo, gerando eletricidade 24 horas por dia. Parecem turbinas eólicas subaquáticas, mas operam com mais estabilidade, pois as correntes oceânicas variam pouco em velocidade.

🔋 Digitalização e autonomia

Sistemas modernos de controle utilizam inteligência artificial e sensores IoT para otimizar a geração e realizar diagnósticos preditivos, reduzindo riscos de falhas e permitindo operação remota.

Novos materiais - como compósitos, ligas resistentes à corrosão e nanorrevestimentos - aumentam a durabilidade e reduzem impactos ambientais. Muitos projetos contam ainda com baterias e conversores de hidrogênio para armazenar o excedente de energia.

A energia marinha está migrando de projetos isolados para redes industriais integradas às redes energéticas nacionais.

Vantagens e aspectos ambientais da energia marinha

Reconhecida como uma das formas mais promissoras de energia renovável, a energia marinha combina eficiência, estabilidade e baixo impacto ambiental.

✅ Principais vantagens

O maior diferencial está na previsibilidade e regularidade. Ao contrário da energia solar e eólica, a produção depende dos ciclos lunares e das forças gravitacionais, não das condições climáticas, tornando-se ideal para geração base e para suprir redes de forma constante.

Outro destaque é a alta densidade energética: a água em movimento tem potencial 800 vezes superior ao do ar, permitindo turbinas menores e mais produtivas. Além disso, não requer desmatamento ou grandes alterações de paisagem, como as hidrelétricas terrestres.

Instalações modernas são projetadas para máxima durabilidade e autonomia, com vida útil de até 40 anos e manutenção mínima, graças a materiais avançados.

🌿 Aspectos ambientais

Apesar do impacto sobre ecossistemas marinhos, projetos atuais seguem princípios de ecodesign. Turbinas e plataformas incluem grades protetoras para evitar danos a peixes e plâncton, e as localizações são escolhidas longe de áreas de reprodução ou rotas migratórias.

A energia marinha contribui de forma significativa para a redução das emissões de CO₂ e para a independência de combustíveis fósseis. Segundo a Agência Europeia do Ambiente, cada megawatt-hora de energia gerada por usinas maremotrizes evita a emissão de até 800 kg de CO₂.

Assim, a energia marinha combina confiabilidade tecnológica e segurança ambiental, sendo uma das formas mais limpas de geração elétrica.

Projetos globais e tendências de desenvolvimento

A energia marinha está saindo da fase experimental e se tornando parte da infraestrutura energética mundial. Diversos países já contam com dezenas de projetos comprovando a viabilidade econômica e técnica do aproveitamento da energia oceânica.

🌊 Europa - polo de inovação

A União Europeia lidera o desenvolvimento da energia marinha. Além da histórica usina de La Rance (240 MW, França), o continente vê a expansão de sistemas de ondas e correntes no Reino Unido, Noruega e Portugal.

O projeto MeyGen, na Escócia, é atualmente a maior usina maremotriz baseada em turbinas subaquáticas, com potência superior a 70 MW e planos de dobrar a capacidade até 2030. Portugal também avança com o WaveRoller, que utiliza a energia das ondas para abastecer cidades costeiras.

⚡ Ásia e Rússia

Na Ásia, destaca-se a integração da energia marinha a outras fontes. A Coreia do Sul construiu a usina Sihwa (254 MW), a maior do mundo. A China investe em instalações híbridas que combinam turbinas de maré e painéis solares, criando "usinas flutuantes do futuro".

Na Rússia, a usina de Kislogubskaya, em operação desde 1968, continua sendo a única do país, enquanto novos estudos avançam nas regiões do Mar de Barents e do Mar Branco.

🌐 Tendências globais

O foco atual está na modularidade e geração local: ao invés de megabarragens, opta-se por unidades compactas e escaláveis, ideais para ilhas e regiões costeiras.

Cresce ainda a integração com a energia do hidrogênio: o excedente das marés pode ser usado para eletrólise, produzindo hidrogênio verde.

A energia marinha torna-se estratégica para países com longas costas marítimas. Até 2035, sua participação pode ultrapassar 3% da geração mundial, equiparando-se à energia eólica atual.

Perspectivas para o futuro da energia marinha

Nas próximas décadas, a energia marinha tende a assumir papel central no fornecimento global de eletricidade. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), o potencial dos oceanos supera 1 trilhão de quilowatts-hora ao ano, suficiente para cobrir uma parcela expressiva da demanda mundial.

O futuro está ligado à redução de custos e à padronização dos equipamentos. Já existem módulos de turbinas universais para diferentes tipos de marés e ondas. O desenvolvimento de materiais autolimpantes, monitoramento inteligente e algoritmos de previsão baseados em redes neurais tornará as usinas ainda mais autônomas.

Ganham destaque as soluções híbridas, que integram energia marinha com painéis solares, módulos de hidrogênio e sistemas de armazenamento, criando clusters energéticos costeiros autossuficientes e independentes de fontes tradicionais.

A energia marinha já não é um experimento futurista: representa uma nova mentalidade energética, onde o oceano é visto como aliado - e não apenas como recurso a ser explorado.

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